José Freire tem vindo a construir, nos últimos anos, uma singular e original obra plástica a partir do recorte de uma das matérias mais simbólicas e belas do universo da arte portuguesa: o azulejo.
O seu vasto conjunto criativo inicia o seu particular âmago plástico através dum sábio dominio técnico do “ alicatado”, proporcionando o surgimento de multiplos fragmentos cromáticos que são, posteriormente, conjugados em luminosas composições.
José Freire, artista autodidata fundanense, incute nas suas vibrantes obras as linhas dum figurativo renovado.
O seu universo temático parte, muitas vezes, da primeira criação de outrem, reordenada em novas bases e texturas que conduzem o observador a leituras rememoradas.
Não são réplicas. Estamos, sim, perante intimas percepções que possuem algo de encantatório e que excitam a nossa deslumbrada visão pelo reflexo e brilho das cores que as peças emitem.
Elevando o “ alicatado “ a um a técnica maior, o artista convoca com o azulejo várias disciplinas plásticas, cultivando todas as dimensões expressivas e os fragmentos de cerâmica colo-ridos pintam, modelam, esculpem, desenham.
Mas há uma coordenada nas obras de José Freire que me parece ser importante aludir : a capacidade evocativa da infância e de novos imaginários que estas peças transmitem.
Na verdade, somos conduzidos para as recor-dações e vivências em que o cizentismo da vida era quebrado pelos luminosos azulejos que bruxuleavam nos nossos caminhos e paisagens.
A arte de Josê Freire é um pequeno mundo de evocações e de passados, mas também de presentes que reencantam em plurais metáforas os sentidos.
E será esse regresso, a uma real presença do azulejo e das estruturas plasticas “ alicatadas “ nas paisagens dos nossos quotidianos domés-ticos e públicos, que gostaria de ver concretizado e acarinhado.
Bem Haja pela sua arte.
Alcina Cerdeira
Vereadora de Cultura Câmara Municipal do Fundão