Os olhos de José Freire roçam no emaranhado de imagens que povoam o quotidiano.
Demora-os nos ícones que causam inquietação, fruição, volúpia … Roda o caleidoscópio, recria formas e cores, em demanda de luz. Compõe, recompõe, concerta figuras … com paciência - paz e ciência – alicatando.
-Desde que me reformei, alicato !
Vocábulo precioso, original ; captare é o étimo latino de catar, pegar, observar … e José Freire cata acolá, aqui e ali … Alicatado provem do Árabe, al-qataa, e numeia o revestimento artistico, de uma qualquer superficie, com azulejos.
Desta forma, alicatar, verbo que José Freire adotou, oferece, afinal, o desvendar do misterioso segredo encerrado na palavra; explica um saber fazer, uma arte. E, como escreveu Heidegger, El habla, habla ( … ) - Presupone un interior que se exterioriza - ( Martin Heidegger, De camino al habla, Barcelona, Ed. Del Serbal, 1987, pp. 12, 13 ). O casamento da palavra cristalina com a sua obra redundou numa harmonia mais que perfeita.
É verdade, José Freire alicata. A mãos hábeis, a olhos perspicazes, benditos, alia o alicate, traça imagens e cria um fio invisível a ensinar a busca de uma aliança tentadora, animada pela fantasia, pelo jogo e capaz de desencadear um prazer renovado …
A comunicabilidade com os Painéis de S. Vicente, com quadros de pintores maiores, com peças escultóricas … avizinha-se do bailar de sonhos e cores, em busca de uma lira de luz primordial.
-Desde que me reformei … alicato !
Nas peças que cria rumoreijam vozes, uma sensibilidade especial para o qual enriquece a invenção.
José Freire, em contemplação do belo, num ato de desvendamento e de recriação, levantou o véu da palavra e talentoso vai aqui e ali, catando, encantando … Alicatando.
Maria Antonieta Garcia
Escritora e Investigadora